A agitação é um sintoma neuropsiquiátrico comum da doença de Alzheimer (DA) que causa grande impacto na qualidade de vida e amplifica a sobrecarga do cuidador. Agitação em na DA pode estar associada à perda de volume no córtex cingulado anterior, córtex cingulado posterior, ínsula, amígdala e córtex frontal, bem como com degeneração da neurotransmissão monoaminérgica, distúrbios circadianos e fragilidade. As opções farmacológicas atuais, apresentam algumas preocupações de segurança e a eficácia é apenas modesta. Há um interesse crescente nos canabinóides como agentes promissores no controlo da agitação, devido a pesquisas clínicas pré-clínicas e iniciais, que sugerem que os canabinóides podem provocar efeitos ansiolíticos, antidepressivos e/ou anti-inflamatórios. Os canabinóides podem melhorar a agitação através da regulação dos neurotransmissores, melhorando algumas comorbidades e ritmos circadianos e aumentando a circulação cerebral.

Embora seja improvável que os canabinóides influenciem fatores de risco genéticos para agitaçãona DA, os canabinóides podem melhorar os sintomas neuropsiquiátrico (SNP) através da regulação direta dos neurotransmissores. É possível que o CBD e o THC possam aumentar a sinalização serotoninérgica por aumento da disponibilidade de triptofano1, um aminoácido essencial que serve como precursor para serotonina e outros metabólitos. Como a diminuição da produção de serotonina está implicada no aparecimento de distúrbios do humor e comportamentais, reduzindo a degradação de triptofano, que está associada a várias doenças inflamatórias, como a DA, pode ser um tratamento eficaz. [1] Os canabinóides provavelmente conferem neuroproteção por diminuição do stress oxidativo, reduzindo o fator de necrose tumoral (TNF) e inibindo a liberação de glutamato.2 Curiosamente, canabinóides podem aumentar ou até mesmo ter um efeito sinérgico, como inibidores típicos da acetilcolinesterase da DA, mas também ligando-se competitivamente à acetilcolinesterase, bloqueando assim a síntese de proteína beta amilóide e aumentando a acetilcolina disponível.3 Os canabinóides também podem melhorar os distúrbios do ciclo circadiano, que também são muito prevalentes na DA, uma vez que o SEC tem sido associado à regulação da temperatura corporal central, nocicepção, atividade dos ciclos de sono/vigília e consumo alimentar.4 Além disso, os canabinóides podem ter um impacto positivo na agitação, melhorando comorbidades comuns, como insónia, ansiedade e dor, e limitando a produção de citocinas pela microglia, reduzindo efetivamente a neuroinflamação.5 Além disso, a DA geralmente apresenta-se simultaneamente com doença vascular subjacente, e os canabinóides podem proporcionar benefícios ao aumentar a vasodilatação e o fluxo sanguíneo cerebral.6
A legalização e a maior aceitação do consumo de canábis em países como os EUA, resultou num boom generalizado do uso de canábis medicinal para muitas patologias e sintomas clínicos, apesar de muitas vezes não haver evidência clínica suficiente. Nos últimos anos surgiram várias revisões sistemáticas e relatos de caso sobre o uso de canabinóides numa ampla gama de pacientes com DA, com diferentrs estadios clínicos e progressão da doença, de dados demográficos, na seleção de canabinóides, do desenho dos estudos e dos tratamentos, favorecendo o viés dos estudos, dificuldanto o consenso unificado dos dados. No entanto, estas revisoes sistemáticas e relatos de caso produziram resultados promissores atravez da coclusao de melhoria dos SNP, atravez de melhorias nos resultados de scores, nomeadamente a agitação, agressão e distúrbios circadianos. O perfil de segurança foi relativamente seguro: os canabinóides foram geralmente bem tolerados e houve efeitos adversos mínimos, sendo os mais graves a sedação e risco de convulsão.
A DA tem um impacto significativo na saúde global do utente e cuidador. Os SNP na DA são quase universais, com agitação e heteroagressividade, levando frequentemente à diminuição da qualidade de vida e maior cansado do cuidador. O uso clínico de canabinóides nesta população idosa, muitas vezes sob multiplos medicamentos diferentes em simultâneo e fatores de saúde complicados, pode ser perigoso! Náusea, sedação, convulsões e outros efeitos adversos associados ao uso de canabinóides podem representar sérias preocupações.
O uso de canabinóides na agitacao da DA ainda é off-label e requer uma investigação mais aprofundada, mas apresentam resultados preliminares promissores para mitigar as consequências prejudiciais da agitação e agressão na DA. Recomendamos fortemente a orientação de um profissional clínico para determinar o canabinóide apropriado e a dose para uso off-label na agitação da DA, e muito cuidado com a automedicação com "medicamentos naturais" de dispensário ou produtos ilícitos para esta indicação.
Bibliografia
2 Ramirez BG, Blazquez C, Gomez del Pulgar T, et al: "Prevention of Alzheimer’s disease pathology by cannabinoids: neuroprotection mediated by blockade of microglial activation." J Neurosci 2005; 25(8):1904–1913;
3 Eubanks LM, Rogers CJ, Beuscher AEt, et al: "A molecular link between the active component of marijuana and Alzheimer’s disease pathology." Mol Pharm 2006; 3(6):773–777;
4 Hodges EL, Ashpole NM: "Aging circadian rhythms and cannabinoids." Neurobiol Aging 2019; 79:110–118;
5 Aso E, Ferrer I, "Cannabinoids for treatment of Alzheimer’s disease: moving toward the clinic." Front Pharmacol 2014; 5:37
6 Iring A, Ruisanchez E, Leszl-Ishiguro M, et al: "Role of endocannabinoids and cannabinoid-1 receptors in cerebrocortical blood flow regulation." PLoS One 2013; 8(1):e53390
O primeiro passo é procurar aconselhamento médico.
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