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Estudo "Cannabis is associated with blood pressure reduction in older adults – A 24-hours ambulatory blood pressure monitoring study"

Tempo de leitura: 3 - 6 minutos

Este estudo coorte prospectivo contou com um total de 38 participantes e 26 deles continuaram o tratamento com canábis e completaram o acompanhamento de 3 meses, desde o início do tratamento.

Os 5 pacientes que interromperam o tratamento com canábis devido a efeitos adversos, relataram as seguintes razões

para suspender: náuseas, diminuição do apetite, sonolência, tonturas, ansiedade, cefaleias e delirium.

A idade dos participantes foi de 70,42 ± 5,37 anos e 53,8% eram do sexo feminino.

O medicamento anti-hipertensivo mais comumente usado (57,7%) foram os inibidores da enzima conversora de angiotensina (IECA) ou os bloqueadores do receptor de angiotensina II (ARA II), seguido por beta-bloqueantes (42,3%).

A maioria dos participantes usava óleo de canábis (76,9%) e apenas 4 participantes (15,4%) fumavam.

As doses médias diárias de canabidiol (CBD) e THC foram 21,3mg e 21,1mg, respectivamente. As indicações para o tratamento com canábis foram vários tipos de dor crónica, sendo a dor neuropática a mais comum (34,6%). Dos participantes que continuaram o tratamento, 80,8% relataram pelo menos um evento adverso, sendo a tontura o mais comum (34,6%).

Quando solicitados a avaliar globalmente os efeitos do tratamento com canábis na sua condição patológica, 18 pacientes (69,2%) relataram algum grau de melhoria e 6 deles (23,1%) definiram como melhoria significativa; 6 pacientes (23,1%) não relataram alteração e 1 paciente (3,8%) relatou deterioração após o tratamento.

Endocanabinóides e sistema cardiovascular

Pressão arterial sistólica e diastólica média por hora de todos os pacientes (N = 26), determinada pelo tensiómetro de ambulatório de 24h comparando os valores antes e 3 meses após tratamento com canábis.
PAS – pressão arterial sistólica;
PAD – pressão arterial diastólica.

Neste estudo de coorte prospectivo de idosos com hipertensão, mostraram que o tratamento com canábis durante 3 meses foi associado a uma redução nos valores da pressão arterial sistólica e diastólica, como medidos pelos consequentes testes de MAPA de 24 horas.

Não foram encontradas alterações significativas no perfil lipídico, HbA1C, insulina em jejum, proteína C-reativa, testes de função renal, eletrólitos, medidas antropométricas e parâmetros no ECG. A glicemia de jejum diminuiu significativamente apenas entre os homens.

Vários estudos controlados por placebo mostraram um aumento na pressão arterial sistólica após o uso de canábis, enquanto outros, também controlados por placebo, não apresentaram nenhum efeito ou apresentaram uma diminuição na pressão arterial diastólica. Esses estudos foram conduzidos em indivíduos jovens e foram avaliados os efeitos imediatos ou a curto prazo da canábis na pressão arterial VERSUS os efeitos a longo prazo avaliados neste estudo.

O efeito observado neste estudo foi estatística e clinicamente significativo, tanto durante o dia quanto durante a noite, mas foi mais pronunciado durante o período nocturno. 

Foi proposto que os canabinóides têm um efeito bifásico na pressão arterial, sendo que doses baixas causam estimulação simpática, enquanto doses mais altas resultam na estimulação parassimpática.

Estes resultados não implicam que haja uma relação dose-resposta entre CBD e THC na pressão arterial.

A dor crónica está associada à hipertensão, e o efeito analgésico da canábis é outra possível explicação para a redução na pressão arterial observada, pois a maioria dos participantes do estudo ficaram satisfeitos com o efeito terapêutico da canábis. No entanto, espera-se que a analgesia diminua tanto a frequência cardíaca quanto a pressão arterial, e não foi observada uma diminuição concomitante na frequência cardíaca. Deve ser referido que a maioria dos pacientes estavam tratados para hipertensão arterial (HTA) e portanto, apresentavam valores de pressão arterial normais ou próximos do normal, especialmente a pressão arterial diastólica. Não se sabe se este efeito da canábis na pressão arterial será o mesmo em indivíduos com valores de pressão arterial substancialmente mais altos.

Parece que também existe uma relação temporal entre a administração de canábis e os valores de pressão arterial – a redução mais significativa nos valores da pressão arterial foram 3 horas após a administração de canábis.

O óleo de canábis foi usado por 76,9% dos participantes; os estudos de farmacocinética da administração oral de canábis, relataram uma absorção errática, com concentrações plasmáticas máximas usuais observadas 1-2 horas após a administração. Esses efeitos têm que ser interpretados no contexto de adultos mais velhos com metabolismo reduzido que podem comportar-se de maneira diferente dos jovens adultos saudáveis ​​nos quais os dados farmacocinéticos são baseados. Além disso, os canabinóides têm um efeito nas enzimas do metabolismo CYP que pode causar uma alteração a nível de uma variedade de fármacos, incluindo anti-hipertensores.

O significado clínico destes efeitos ainda precisa ser elucidado. Os efeitos da administração de canábis entre o dia e a noite foram semelhantes.

A canábis, e especificamente o THC, têm um efeito taquicárdico bem comprovado, mas foi demonstrado que a tolerância a este efeito desenvolve-se dentro de dias a semanas. De acordo com o desenvolvimento de tolerância, os resultados do estudo não mostraram aumento da frequência cardíaca após 3 meses de uso de canábis.

A taxa de efeitos adversos é substancial e significativamente maior do que na maioria dos estudos. Tonturas, o evento adverso mais comum neste estudo, pode ser atribuído a uma das características desta coorte – hipertensão. Pacientes com elevação persistente da pressão arterial podem perceber a redução da pressão arterial como mais significativa, podendo causar hipotensão e uma sensação de tontura. Esta explicação é apoiada por um estudo que mostrou uma diminuição acentuada da pressão arterial e velocidade do fluxo sanguíneo cerebral após a administração de canábis, levando a tonturas severas. Uma possível explicação diferente para a alta taxa de efeitos adversos são as múltiplas comorbidades da maioria dos participantes neste estudo, o que pode torná-los mais suscetíveis aos efeitos adversos da canábis.

Em geral, este estudo mostrou que a prevalência de arritmias não mudou significativamente após 3 meses do uso de canábis. No entanto, a avaliação do ritmo (dois registros de ECG) usada no estudo tem baixa sensibilidade na detecção de arritmias.

Métodos de monitorização contínua, como a monitorização por ECG durante 24 horas ou mais tempo, e um tamanho de amostra maior, são necessários para determinar melhor as mudanças nas taxas de arritmias cardíacas.

Vários estudos relataram que o uso de cannabis está associado a menores níveis de colesterol de lipoproteína de baixa densidade (LDL), insulina em jejum, glicemia de jejum, modelo de avaliação da homeostase da resistência à insulina, HbA1C, índice de massa corporal (IMC) e perímetro abdominal. Sabe-se que o sistema endocanabinóide modula a lipogénese via receptores canabinóides tipo 1 nos adipócitos e por vários outros mecanismos. Não foram encontradas diferenças significativas em nenhum dos parâmetros metabólicos avaliados, exceto glicose em jejum nos homens. Isso pode ser explicado pela amostra inadequada, tamanho, e mais pesquisas são necessárias para esclarecer a relação da canábis com o metabolismo lipídico e da glicose.

O primeiro passo é procurar aconselhamento médico.