Por que é que algumas mulheres recorrem à canábis durante a gravidez? Abaixo estão algumas das razões mais comuns pelas quais a canábis pode ser considerada, quando outras opções de tratamento e considerações nutricionais e de estilo de vida foram tentadas sem sucesso.
- Hiperémese gravídica - náuseas graves e vómitos durante a gravidez, chamados de hiperémese gravídica, ocorrem em 0,3-3% de todas as gestações. É uma condição em que a canábis demonstrou clinicamente fornecer alívio. Náusea, principalmente a do primeiro trimestre, estão associadas a vómitos em 50% dessas gestações.1 O efeito da canábis sobre as náuseas e vómitos é uma das razões pelas quais o relatório do NASEM afirmou que existem evidências significativas que suportem o seu efeito terapêutico. Canábis e canabinóides são eficazes para perda de apetite e anorexia em geral. Certamente deve ser usado para prevenir hospitalização, nutrição intravenosa subsequente e todas as complicações potenciais resultantes. Nesse sentido, o uso de canábis pode ser considerado uma redução de danos.
- Stress e ansiedade - Estima-se que a perturbação de ansiedade perinatal ocorra entre 13-21% das gestações, com prevalência pós-parto estimada em 11-17%.2 O stress materno está associado a resultados adversos. Um estudo de 2020 com 119 participantes concluiu que houve alta prevalência de sofrimento psíquico materno em mulheres saudáveis. Esse stress pode prejudicar a bioquímica do cérebro e o desenvolvimento do cérebro do feto em crescimento. Os investigadores relataram que essas descobertas “apoiam a necessidade de vigilância de rotina da saúde mental de todas as mulheres grávidas e intervenções direcionadas em mulheres com elevado sofrimento psicológico.”3 Portanto, o alto stress /ansiedade durante a gravidez precisa de ser tratado. Além disso, se SSRIs ou benzodiazepinas (BDZ) forem usados, existe a possibilidade de ocorrer síndrome de abstinência neonatal. O Síndrome de Abstinência Neonatal ocorre em 30% dos recém-nascidos expostos a SSRIs in-útero. E as BDZ são conhecidas há anos por causar a síndrome de abstinência neonatal.4,5 No entanto, a canábis não está relacionada com este síndrome. Certamente, nestes casos, a canábis pode ser considerada para redução de danos. Uma terapia que avalie a paciente e proporcione ferramentas cognitivo-comportamentais devem fazer parte do tratamento para o stress/ansiedade.
- Depressão e/ou insónia – 85% das mulheres experimentam algum tipo de distúrbio do humor durante o período pós-parto. Falta de sono, dor crónica, desequilíbrios hormonais e outras mudanças físicas, juntamente com a intensa responsabilidade repentina de uma nova vida, podem resultar em danos significativos à saúde mental da mulher. Isso pode fazer uma nova mãe sentir-se desamparada e “desligada”, especialmente quando há pouco suporte familiar ou social.6,7 A canábis é conhecida por ser um estabilizador do humor e por fornecer alívio da depressão e da ansiedade. A canábis utiliza não apenas o Sistema Endocanabinóide (SEC), mas também os recetores de serotonina, os recetores de adenosina e outros. Terpenos específicos, como limoneno, beta-cariofileno, mirceno, e linalool também são úteis para a depressão e ansiedade.8
Um estudo canadiano de 2018, entrevistou 103 mulheres grávidas. Mais de 66% das mulheres relataram o uso pré-natal de canábis, em substituição de produtos farmacêuticos. Concluíram que a canábis foi considerada mais aceitável do que benzodiazepinas para o tratamento da ansiedade durante a gravidez.
Náusea matinal foi relatada por 92% das mulheres. Todas relataram que foi pelo menos ligeiramente eficaz, enquanto metade disse que sempre foi eficaz. Nove mulher no estudo tiveram o diagnóstico de hiperémese gravídica. A conclusão foi que a canábis era eficaz no controle dos sintomas sem hospitalização.9
Um ponto importante desta pesquisa é que 40% das mulheres entrevistadas indicaram que não se sentiam confortáveis para discutir a toma canábis com os seus médicos. 35% das participantes relataram que nem mesmo mencionariam isso aos profissionais de saúde.5 Estes resultados destacam a importância da necessidade de melhorias, comunicação de um clínico crítico sobre canábis e o uso na gravidez.
Bibliografia
1 Matthews, Anne, et al. "Interventions for nausea and vomiting in early pregnancy." Cochrane Database of Systematic Reviews 9 (2015).
2 Fairbrother et al, Depression and Anxiety during the Perinatal Period, BMJ Psychiatry Feb 2015.
3 Wu, Y., Lu, Y. C., Jacobs, M., Pradhan, S.,Kapse, K., Zhao, L., ... & Limperopoulos, C. (2020). Association of prenatal maternal psychological distress with fetal brain growth, metabolism, and cortical maturation. JAMA network open, 3(1), el919940-e1919940.
4 Levinson-Castiel, R., Merlob, P., Linder, N.,Sirota, L., & Klinger, G. (2006). Neonatal abstinence syndrome after in utero exposure to selective serotonin reuptake inhibitors in term infants. Archives of pediatrics & adolescent medicine, 160(2), 173-176.
5 Swortfiguer, D., Cissoko, H., Giraudeau, B.,Jonville-Bera, A. P., Bensouda, L., & Autret-Leca, E. (2005). Neonatal consequences of benzodiazepines used during the last month of pregnancy. Archives de pediatrie: organe officiel de la Societe francaise de pediatrie, 12(9), 1327-1331.
6 Wilson-King, Genester. Cannabis Use in Pregnancy & Breastfeeding. Society of Cannabis Clinicians Clinical Training Course. 2021.
7 Corsi, Daniel J., et al. "Maternal cannabis use in pregnancy and child neurodevelopmental outcomes." Nature medicine 26.10 (2020): 1536-1540.
8 Russo, E. B., & Marcu, J. (2017). Cannabis pharmacology: the usual suspects and a few promising leads. Advances in pharmacology, 80, 67-134.
9 Daniels, Sarah. THERAPEUTIC USE OF CANNABIS AND SUBSTITUTION FOR PHARMACEUTICAL MEDICATIONS IN A PRENATAL SAMPLE. Presented at University of British Columbia, Kelowna, BC, Canada at an ICRS meeting. 2018.