O peso da epilepsia resistente ao tratamento, inclui:
- Pobre qualidade de vida;
- Efeitos adversos dos fármacos antiepiléticos;
- Declínio cognitivo;
- Aumento do risco de lesões;
- Disfunção psicossocial;
- Estilos de vida restritos;
- Aumento dos custos de saúde;
- E o mais importante de todos, aumento da mortalidade.
Embora existam poucos ensaios clínicos, existem alguns estudos que explicam os efeitos anticonvulsivantes do canabidiol (CBD).
Em 1978, o Dr. Mechoulam et al. randomizaram 9 pacientes para tomar CBD 200mg/dia ou placebo. Dois dos quatro pacientes que receberam CBD ficaram livres de convulsões. Nenhum dos cincos pacientes que receberam placebo apresentaram melhorias e não foram reportados efeitos adversos.1
Em 1980, outro ensaio clínico com 16 pacientes com convulsões tónico-clónicas generalizadas, 8 destes receberam 200-300mg/dia de CBD e os restantes 8 receberam placebo. No grupo do CBD, 3 ficaram livres de convulsões, 4 apresentaram melhorias e 1 não apresentou alterações. No grupo de placebo, apenas 1 paciente apresentou melhorias e os restantes 7 não mostraram alterações.2
Em 1986, Ames et al. reportou num ensaio com 12 doentes que receberam 200 a 300mg CBD VS placebo. Neste ensaio não foram demonstrados benefícios da toma de CBD versus placebo e o único efeito adverso referido foi leve tonturas.3
Em 1990, Trembly e Sherman, realizaram um open trial, com um paciente adulto sob 900 a 1200mg de CBD com uma duração de tratamento de 10 meses, com marcada redução da frequência das crises.4
Em 2005, 18 pacientes pediátricos, com epilepsia refratária, foram tratados com CBD num estudo open trial. Não houve efeitos adversos que levassem à descontinuação do tratamento. A maioria dos pacientes apresentou uma melhoria de 25%, mesmo em baixas doses. Houve uma melhoria significativa na consciência e espasticidade, quando existia nestes pacientes.5
Em 2013, Porter e Jaycobson, realizaram um questionário com 19 pacientes do estado do Colorado, nos EUA e usaram um quimiotipo III ou canábis medicinal com alto teor em CBD, com 13 dos pacientes com síndrome de Dravet, 4 com Síndrome de Doose, 1 com Síndrome de Lennox-Gastaut, e 1 idiopática. O número médio de antiepiléticos que estes doentes faziam era de 12 antiepiléticos/dia, antes do início do uso de CBD. Dos 19 pacientes, em 84% observou-se redução da frequência das crises epiléticas, e 2 pacientes ficaram com ausência de crises convulsivas. Os pais referiram outros benefícios, como melhoria do sono, melhoria do humor e maiores períodos de alerta. Os efeitos adversos foram tonturas e fadiga.6
Em 2015, Hussain et al. questionaram 117 famílias que usavam CBD no tratamento de epilepsias refratárias ao tratamento (53% destes pacientes apesentavam Espasmos Infantis e Síndrome de Lennox-Gastaut). Estes pacientes apresentavam elevada refratoriedade á medicação, com uma latência entre o início do tratamento com CBD e a realização do diagnóstico de 5 anos, com tentativas com uma média de 8 antiepiléticos: 45% não responderam à dieta cetogénica; 11% não responderam à cirurgia de receção, e 18% não responderam à neuroestimulação do nervo vago.
A duração media de exposição ao CBD foi de 6,8 meses e a dose média de CBD destes pacientes foi de 4,3 mg/kg/dia.
Neste grupo, 85% reportaram redução da frequência das crises e 14% ficaram livres de convulsões. Os pais reportaram ainda melhorias no sono (53%), estado de alerta (71%) e melhorias do humor (63%) e o único efeito adverso reportado foi aumento do apetite (30%).7
Outro estudo sobre o uso de CBD na população pediátrica, foi publicado em 2016. Este estudo retrospetivo israelita, incluiu 74 pacientes com idade entre 1 e 18 anos, com epilepsia resistente ao tratamento. Este grupo de pacientes mostrou-se refratário a mais de 7 antiepiléticos: 66% não responderam à introdução da dieta cetogénica, neuroestimulação do nervo vago, ou ambos.
Iniciaram tratamento com CBD:THC num rácio de 20:1, com doses entre 1-20mg/kg/dia. Os pacientes foram tratados por pelo menos 6 meses. Destes, 89% reportaram diminuição da frequência das crises convulsivas, sendo que um paciente ficou livre de convulsões; 18% reportaram uma redução de 75% a 100%; 34% reportaram uma redução de 50% a 75% das crises; 12% reportaram uma redução de 20% a 50%; e 26% reportaram uma redução da frequência das crises abaixo dos 20%; 7% apresentaram um agravamento do quadro e suspenderam o tratamento.
Este estudo apresentou benefícios a nível do comportamento, estado de alerta, linguagem, interação social, comunicação, capacidades motoras e sono. Os efeitos adversos reportados foram sonolência, fadiga, distúrbios gastrointestinais (GI) e do sono, em 5 pacientes.8
1 Mechoulam R, Carlini EA. Toward drugs derived from cannabis. 1978 Apr 1;65(4):174-9.
2 Cunha JM, Carlini EA, Pereira AE, Ramos OL, Pimentel C, Gagliardi R, Sanvito WL, Lander N, Mechoulam R. Chronic administration of cannabidiol to healthy volunteers and epileptic patients. Pharmacology. 1980;21(3):175-85.
3 Ames FR. Anticonvulsant effect of cannabidiol. S Afr Med J. 1986;69:14.
4 Trembly B, Sherman M. Double-blind clinical study of cannabidiol as a secondary anticonvulsant, presented at: Marijuana’90 International Conference on Cannabis and Cannabinoids; 1990 July 8–11, Kolymbari, Crete. International Association for Cannabinoid Medicines. 1990.
5 Pelliccia A, Grssi G, Romano A, Crocchiolo P. Treatment with CBD in oily solutions of drug-resistant pediatric epilepsies. InCongress on Cannabis and the Cannabinoids. Leiden, The Netherlands: International Association for Cannabis as Medicine 2005.
6 Porter BE, Jacobson C. Report of a parent survey of cannabidiol-enriched cannabis use in pediatric treatment-resistant epilepsy. Epilepsy & Behavior. 2013 Dec 1;29(3):574-7.
7 Hussain SA, Zhou R, Jacobson C, Weng J, Cheng E, Lay J, Hung P, Lerner JT, Sankar R. Perceived efficacy of cannabidiol-enriched cannabis extracts for treatment of pediatric epilepsy: a potential role for infantile spasms and Lennox–Gastaut syndrome. Epilepsy & Behavior. 2015 Jun 1;47:138-41.
8 Tzadok M, Uliel-Siboni S, Linder I, Kramer U, Epstein O, Menascu S, Nissenkorn A, Yosef OB, Hyman E, Granot D, Dor M. CBD-enriched medical cannabis for intractable pediatric epilepsy: the current Israeli experience. Seizure. 2016 Feb 1;35:41-4.