Recentemente, uma série de estudos clínicos (em humanos) mostraram que crianças com alterações do Espectro do Autismo apresentam alterações no seu sistema endocanabinóide, quando comparadas com crianças que não apresentem o mesmo distúrbio:
- Um estudo clínico realizado em crianças, entre os 3 e os 9 anos de idade demonstrou que os recetores CB2 nos glóbulos brancos das crianças com DEA estavam aumentados (acredita-se que ocorra de forma compensatória aos baixos níveis de endocanabinóides) em comparação com controles saudáveis compatíveis 1.
- Em 2018, um estudo da Universidade de Stanford documentou que crianças com DEA apresentam níveis mais baixos de anandamida plasmática em comparação com crianças sem DEA. Os autores relataram que "as concentrações de anandamida diferenciaram significativamente os casos controlo, de modo que crianças com concentrações mais baixas de anandamida eram mais propensas a ter DEA. Esta descoberta é importante visto os níveis de anandamida poderem ser usados como biomarcador para o diagnóstico de DEA 2.
- Um estudo de 2019 de investigadores israelitas relatou que crianças com DEA têm níveis mais baixos de três endocanabinóides, quando comparados com crianças sem DEA. O estudo mostrou que os níveis mais baixos "não estavam significativamente associados ou correlacionados com fatores como idade, sexo, IMC, medicamentos e funcionamento adaptativo dos participantes de DEA 3.

Apesar de 2 ensaios clínicos, com o objetivo de avaliar o uso de CBD no tratamento do DEA, terem sido aprovados nos EUA, nenhum deles teve início. No Entanto encontramos alguns ensaios clínicos realizados noutros países que parecem promissores:
- Em Israel, 60 crianças com sintomas graves de DEA aos quais foi administrado um óleo com um rácio de 20:1 de CBD:THC. 31 Das crianças (52%) respondem bem a esta preparação à base da planta de canábis; aqueles que não responderam foram tratados com rácios mais baixos (mais THC em relação ao CBD), resultando melhoria sintomática em outras 20 crianças (69%). No final do estudo, 73 % permaneceram em tratamento. Os autores referem que o intervalo de dose de CBD foi de 1,2 a 6,4 mg/kg/dia e de THC entre 0,07 a 0,51 mg/kg/dia divididas em 3 tomas diárias, e 0,2 a 3,4 mg/kg/dia de CBD e 0,08 a 0,36 mg/kg/dia de THC para crianças que receberam duas tomas diárias 4.
- Também em Israel, 188 pacientes foram tratados com uma preparação à base da planta da canábis, num rácio CBD:THC de 20: 1, entre 2015 e 2017. Após 6 meses, 82,4% permaneceram em tratamento ativo com os seguintes resultados: 28 pacientes (30,1%) relataram uma melhoria significativa, 50 (53,7%) moderada, 6 (6,4%) leve e 8 (8,6%) não apresentara qualquer melhoria. O tratamento foi considerado bem tolerado, seguro e eficaz 5.
- Um estudo observacional no Brasil com pacientes com DEA (alguns com epilepsia) sob uma preparação à base da planta da canábis, contendo um rácio CBD:THC de 75:1 referem que dos 15 pacientes que realizaram tratamento, apenas 1 apresentou melhorias sintomáticas 6.
Bibliografia:
1 D. Siniscalco et al., “Cannabinoid Receptor Type 2, but Not Type 1, Is Up-Regulated in Peripheral Blood Mononuclear Cells of Children Affected by Autistic Disorders,” Journal of Autism and Developmental Disorders 43, no. 11 (2013): 2686-95.2 D. S. Karhson et al., “Plasma Anandamide Concentration Are Lower in Children with Autism Spectrum Disorder”, Molecular Autism 9. No. 1 (2018): 18.
3 A. Aren et al., “Lower Circulating Endocannabinoid Levels in Children With Autism Spectrum Disorder,” Molecular Autism 10 no. 1 (2019): 2.
4 A. Ara net al., “Brief Report: Cannabidiol rich Cannabis in Children with Austism spectrum Disorder and Severe Behevioral Problems – a Retrospective Feasibility Study,” Journal of Autism and Developmental Disorders 49, no. 3 (2019): 1284-88.
5 L. Bar-Lev Schleider et al., “Real Life Experience of Medical Cannabis Treatment in Autism: Analysis of Safety and Efficacy,” Scientific Reports 9 (2019): 200.
6 P. Fleurt-Teixeira eta al., “Effects od CBD-Enriched Cannabis Sativa Extract on Autism Spectrum Disorder Symptoms: An Observational Study of 18 Paerticipants Undergoing compassionate Use,” Frontiers in Neurology 10 (2019): 1145.
Bar-Lev Schleider et al., “Real Life Expirience of Medical Cannabi Treatment in Autismo,” 200.